“Sem pedagogia ou didatismo jornalístico, o arco narrativo se constrói de forma orgânica à medida que a relação das duas [Fabiana e diretora] vai se fortalecendo. Como nas culturas orais populares, Fabiana é uma história que se funda no encontro, no acaso e no processo de escuta e troca com o outro. Narrativa-deriva, fragmentária e fluida, se estrutura de forma lacunar em uma montagem que se tece como o fio da memória."

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Primeiro longa nacional da Mostra competitiva do Olhar de Cinema, 'Fabiana' é um pequeno achado. A diretora Brunna Laboissière, acostumada a pegar carona nas estradas, desde sua Goiás natal, deparou-se um dia com Fabiana na direção de um caminhão de carga.

"É um road movie distinto, no qual sabemos o destino final, porém já dizia Guimarães Rosa em seu consagrado Grandes Sertões Veredas: “o importante está na travessia”. A travessia de Fabiana verdadeiramente importa."

"Si bien la protagonista es una mujer trans, la fascinación de la cineasta por su personaje no está en hacer un alegato activista ni mucho menos, sino en mostrar su humanidad, su lado ambivalente y su nostalgia o frustración ante el cambio laboral..."

"É um documentário de observação, na qual a diretora serve como interlocutora mais que entrevistadora. Conduz o espectador ao mundo complexo da personagem, respeitando-a e desvelando sua intimidade com delicadeza, à medida em que ela vai se sentindo à vontade para fazê-lo. O documentário foi longamente aplaudido pelo público do Olhar de Cinema."

"O que você acha que mais contribuiu para a sua identificação com a Fabiana? Primeiro a questão da mobilidade. Acho muito interessante essas pessoas que vivem de uma forma cigana. E a outra era essa questão de ser mulher na estrada. Quando eu comecei a pedir carona tinha muito esse sentido, “eu também posso pedir carona”. Aí eu vi a Fabiana na estrada, uma mulher trans, com uma série de desafios, vivendo a vida dela independentemente do que o mundo diz que pode ou não pode…"

"Brunna Laboissière entrega uma obra diferenciada dentro do efervescente cinema LGBTQI por se distanciar da costumaz narrativa focada no preconceito e/ou o processo de descoberta e afirmação. Cruzando o Brasil no banco do carona do caminhão de Fabiana, Brunna constrói um retrato destinado a ir além de questões de gênero já bastante exploradas, sem tratar impressões negativas de outras pessoas sobre sua personagem como o principal, apresentando um perfil muito mais sentimental do que identitário.

"O trabalho de montagem e as decisões provenientes dele moldam esse mesmo roteiro e movem nossa percepção em relação àquela mulher, que vai sendo descortinada de forma única. Nesse sentido de apresentação, abre um leque de possibilidades ainda maior para a narrativa, criando lacunas que não serão respondidas frontalmente - e reside aí um dos fascínios do longa.”

"Entre idas e vindas por tantos lugares, a realidade de quem vive na estrada pode ser dura, mas também enriquecedora."

"Como Meu Corpo É Político, de Alice Riff, Fabiana propõe ao espectador que a acompanhe a rotina normal de uma pessoa trans, optando por uma ideia de convivência e não por um debate explícito e sobre determinadas questões."